O “fóssil do dia” é um prémio atribuído diariamente pelas Organizações Não Governamentais de Ambiente aos países que revelam um pior comportamento negocial.
Hoje o primeiro prémio foi atribuído à Itália, pelas declarações do Sr. Berlusconi à chegada a Bruxelas. A declaração que lhe valeu o fóssil foi: “Penso que é absurdo falar de corte de emissões neste momento de crise. É como se alguém com pneumonia estivesse a pensar ir ao cabeleireiro.” Para Berlusconi a crise económica é uma pneumonia, a crise climática uma ida ao cabeleireiro.
O segundo prémio foi para grupo “Umbrella”: a Austrália fez o denominado grupo Umbrella (Austrália, Canadá, Islândia, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Federação Russa, Ucrânia e EUA) ganhar este prémio. Na sessão plenária quando chegou à parte das soluções, a Austrália mencionou apenas que eram necessárias “acções conjuntas” e quanto às suas acções para 2020 acresceu que as ia anunciar no final da Conferência. Uma visão de conjunto um pouco… particular?
O terceiro e último prémio foi para o Canadá porque pediu ao secretariado da COP para retirar a fotografia das areias de alcatrão de Alberta que estava exposta na mesa da CAN USA (Rede de Acção Climática dos Estados Unidos). Esta fotografia queria precisamente chamar a atenção para as areias de alcatrão no Canadá que irão produzir a partir de agora e até 2020, 80 milhões de novas toneladas de CO2 por ano e impedir que o Canadá consiga reduções significativas de emissões de gases de efeito de estufa (GEE).
(Francisco Ferreira, Quercus no frio e chuva de Poznan)
Enquanto as negociações pouco progridem e se esperam por notícias de Bruxelas no que respeita à suposta (quase já ultrapassada) liderança europeia, algumas curiosidades. Os automóveis que transportam os altos dignatários participantes na Conferência são BMWs topo de gama que anunciam energia limpa e de cujo escape só sai vapor de água. Duas pequenas notas: já passei por eles várias vezes e estão sempre a trabalhar (ninguém ensina aquela regra de que se vão ficar a trabalhar mais do que 30 segundos mais vale a pena desligar o automóvel – presumo que tal também vale para os carros a hidrogénio), e ainda mais, ninguém diz se o hidrogénio foi produzido a partir de fontes renováveis ou de gás natural…
Na Praça Antiga de Poznan, e com o frio que por aqui anda, uma “ice team” desenha o símbolo da conferência em gelo. E também em gelo, a Oxfam, uma organização não governamental de desenvolvimento, apela a decisões e liderança por parte da União Europeia, utilizando estátuas em gelo junto da entrada da conferência.
Uma novidade para amanhã, o Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, Francisco Nunes Correia, profere um discurso em nome de Portugal no plenário amanhã entre as 11 e as 14h, hora de Portugal e acordo com o último agendamento.
Na conferência de Poznan, um dos pontos que já se revelou fundamental para o sucesso passa pela redução de emissões associadas à desflorestação e degradação da floresta (REDD, da sigla em inglês).
Em 2005, um conjunto de países em desenvolvimento propôs incorporar a prevenção da desflorestação como mecanismo do Protocolo de Quioto, em parte dentro do comércio de emissões. Este mecanismo permitiria ao países em desenvolvimento vender as emissões resultantes da conservação da floresta aos países desenvolvidos (do Anexo I), que têm metas de redução a cumprir.
Esta questão ganhou importância desde que o Plano de Acção de Bali incluiu o REDD como mecanismo de mitigação para os países em desenvolvimento a ser contemplado num acordo pós-2012.
O REDD está a ser discutido ao nível do SBSTA (Órgão Subsidiário de Apoio Técnico e Científico) para fazer recomendações sobre a metodologia que deverá ser seguida neste mecanismo. No entanto, alguns países consideram ser necessário mais progresso ao nível político para ser possível detalhar o processo de implementação do REDD.
Para assegurar uma participação o mais alargada possível no REDD, é necessário que este mecanismo seja capaz de tomar em conta as diferentes circunstâncias nacionais de países com grandes áreas florestais, desde a Índia às Ilhas Tuvalu. Promover a capacitação dos países em desenvolvimento é fundamental, pois a desflorestação, em particular nos países menos desenvolvidos, está frequentemente associada a governos fracos, corrupção e desrespeito pelos povos indígenas.
Hoje a Quercus participou num side event promovido por Cabo Verde, onde foi apresentado o primeiro projecto deste país em Mecanismos de Desenvolvimento Limpo. O projecto foi apresentado pelo Senhor Embaixador de Cabo Verde na Alemanha, Dr. Jorge Tolentino, e pela Directora Geral do Ambiente de Cabo Verde, Enga. Maria Ivone Lopes.
Este projecto que é uma parceria publico-privada vai permitir instalar 28 MW em quatro ilhas deste arquipélago, e a produção de 90 000 MWh/ano. Em 2012, ano de conclusão do projecto, a energia eólica representará 30% da energia consumida. Permitirá a redução da factura energética em 20 Mton de petróleo e 13 milhões de Euros por ano. Em emissões de gases de efeito de estufa (GEE) será possível reduzir cerca de 94 000 ton CO2 eq/ano.
O projecto conta com o investimento público do governo de Cabo Verde em cerca de 20% e a formação de uma equipa técnica. O resto é investimento privado que será recompensado com a venda de créditos de emissão (CER), quando o investimento tiver concluído.
As metas de Cabo Verde são ambiciosas: produzir cerca de 25% da energia eléctrica por fontes renováveis até 2012 e 50% até 2050.
África tem apenas 84 projectos dos 4257 projectos de MDL aprovados. Cabo Verde tem agora o primeiro.
As palavras do título são do início do discurso do Secretário-Geral das Nações Unidas BAN Ki-moon na abertura do segmento ministerial (também chamado de alto-nível), em que falou da importância decisiva de todo o mundo combater e lidar com as alterações climáticas. Mencionando estarmos a viver duas crises: a crise económica e a crise climática, alertou para o facto da resolução da crise climática ser decisiva para ultrapassarmos a crise económica, se enfrentarmos o desafio do clima como uma oportunidade. Falou igualmente do facto de um investimento num “futuro verde” ser gerador de emprego e ser algo necessário para assegurarmos uma melhor qualidade de vida para as próximas gerações. Apelou ainda à liderança de todos, em particular da Europa, que se tem mostrado reticente (em termos de entendimento no que respeita ao pacote energia-clima hoje em discussão no Conselho Europeu), mas também dos Estados Unidos da América. Referiu exemplos de como as energias renováveis são vitais para o futuro.
Por último, afirmou que o próximo ano será o ano do clima, e que em Poznan é fundamental ultrapassar três desafios: a aprovação de um plano detalhado até Copenhaga (onde se pretende que se chegue a acordo para depois do primeiro período de cumprimento do Protocolo de Quioto, isto é, entre 2013 e 2020), o delinear de uma visão de médio e longo prazo, com metas para os países industrializados e um crescimento mais amigo do ambiente por parte dos países em desenvolvimento. Nesta visão há aspectos fundamentais como a adaptação, a transferência de tecnologia. Em terceiro lugar é necessário um comprometimento de todo os países para com a urgência das alterações climáticas e que requer nada mais, nada menos, do que liderança.