Sábado, 6 de Dezembro de 2008
(Francisco Ferreira da Quercus, em Poznan)
Foi uma semana morna em Poznan desde que a Conferência das Nações Unidas começou na passada segunda-feira, 1 de Dezembro, em Poznan, na Polónia. As discussões têm mostrado que falta uma “visão partilhada” para o futuro das negociações climáticas em termos de decisões e inclusive em palavras.
A importância de haver um acordo em Copenhaga no próximo ano não pode ser subestimada: transformar a economia mundial numa economia que use pouco carbono e sustentável nos padrões de produção e consumo e assegurar que todos os países atingem os seus objectivos de desenvolvimento respeitando os princípios anteriores.
Tendo por base a ciência de acordo com o 4º Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas aprovado em Bali em Dezembro de 2007, é necessário assegurar que o pico das emissões globais se verificam antes de 2020. Tal só é possível com reduções por parte dos países desenvolvidos de 25 a 40% entre 1990 e 2020 e de 80 a 95% até 2050. Acrescente-se ainda a necessidade de reduzir as emissões internacionais da aviação e navegação.
Os temas decisivos continuam infelizmente os mesmos: o esforço de redução de emissões dos países desenvolvidos ser ambicioso, a importância decisiva da transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento, a necessidade de haver uma capacidade de medir, reportar e verificar as emissões, os objectivos serem equilibrados na mitigação (redução de emissões) e na adaptação, haver estratégias de redução de emissões para os países em desenvolvimento, e ainda o drama de se saber que a destruição da floresta à escala mundial significa por ano a incapacidade de capturar o mesmo carbono que é emitido pelos Estados Unidos…
Os caminhos necessários são conhecidos mas as decisões, como sempre a meio de duas semanas de negociação, praticamente não existem e já algum cansaço se confunde com desespero.

(Ana Rita Antunes da Quercus, em Poznan)
Não sobe dos 2ºC, tal como os sites da internet diziam. As palavras por aqui soam estranhas e, escritas, têm vogais cedilhadas. Os polacos são simpáticos, mas o inglês ainda está longe da universalidade que caracteriza (feliz ou infelizmente) a Europa e o mundo. A comunicação passa muito por gestos e expressões.
A entrada da conferência está sem “pompa e circunstância”. Depois de um cartaz a anunciar a COP 14, aparece uma grande faixa da International Emissions Trading Association, para nos lembrar quanto o carbono é um negócio com as suas virtudes e perversidades.
Mas está tudo muito bem organizado. A acreditação funciona na perfeição. Os delegados podem andar de eléctrico e autocarro gratuitamente – é só mostrar o cartão identificador da Conferência. Estamos no Sábado, a meio das negociações e tudo muito calmo, quase adormecido. Até se ouve dizer que os delegados e negociadores tiveram de inventar assuntos para se entreterem a semana passada.
Na Conferência também é feriado na próxima segunda. Feriado católico? Não. Feriado muçulmano? Sim. Feriado muçulmano polaco? Não, não. A pedido do Grupo 77+China, a Mesa da Conferência aceitou festejar o feriado muçulmano “Eid Al-Adha”, que será comemorado na próxima segunda-feira, dia 8 de Dezembro. Todos os eventos oficiais agendados para esse dia passam para o dia seguinte, pode ler-se no programa diário da COP. Sempre é uma forma de passar mais um dia de negociações. Só nos interrogamos é para quê então duas semanas de COP? No fundo todos esperam por quem pode em parte tomar as decisões importantes (os Primeiro-Ministros Europeus na quinta-feira e os Ministros do Ambiente de todo o mundo a partir de quarta-feira).
São quase cinco da tarde, não se viu um raio de sol o dia todo e já é noite cerrada. O display electrónico ainda não baixou dos 2ºC (estará avariado?). Dizem que o frio é bom para trabalhar. Assim o esperamos!
Terça-feira, 2 de Dezembro de 2008
Aproveitando a conferência na Polónia o governo de Varsóvia encomendou uma campanha publicitária para alertar para as emissões de gases de efeito de estufa.
O Anuncio diz:
“11 toneladas de gases de efeito de estufa que produzimos por ano. 11 milhões de toneladas de lixo que os polacos produzem por ano.
Com uma condução económica e separando o lixo você salva e protege o ambiente.
Mude os hábitos para melhor. Mude o clima para melhor”
Yvo de Boer, secretário executivo da UNFCCC, Convenção das Nações Unidas para as alterações climáticas sublinhou aos jornalistas a importância desta conferência, em Poznan.
"É um grande conferência. Estão presentes 10696 participantes de 187 países membros da Convenção, 400 organizações não governamentais, 38 organizações internacionais e 789 jornalistas credenciados”, disse Yvo de Boer.
Para este alto funcionário da ONU, Poznan representa “o marco de metade do caminho de um processo negocial muito importante”.
“Em 2007 recebemos dois sinais muito importantes, o primeiro foi o sinal da comunidade cientifica de que são os humanos que causam as alterações climáticas e estas terão impactos devastadores se não as atacarmos, mas também possuímos a tecnologia necessária para o fazer. O segundo sinal que recebemos foi da comunidade económica internacional, especialmente do relatório Stern que avalia o impacto de um falhanço no combate às alterações climáticas como sendo equivalente ao impacto combinado das duas grandes guerras e da grande depressão”, sublinhou Boer.
De acordo com o secretário executivo da UNFCCC, “a questão que se coloca é se num tempo de crise económica é possível mobilizar o financiamento internacional? Esta é uma pergunta critica porque o financiamento está no coração da luta contra as alterações climáticas”.
“Um grande avanço em Bali foi os países em desenvolvimento terem dito estar dispostos a avançar com medidas concretas de redução das suas emissões se os países industrializados disponibilizarem financiamento e tecnologia para esses países”.
“Espero que aqui seja lançado, formalmente, o fundo de adaptação. Um instrumento único que fornece aos países em desenvolvimento assistência para que se adaptem aos impactos das alterações climáticas. Espero, ainda, significativos avanços no tema da transferência de tecnologia”.
“Espero também avanços no chamado mecanismo de desenvolvimento limpo, tornando mais ajustado às necessidades dos países em desenvolvimento e que atinja mais países. A questão da desflorestação também deve central nestas negociações”.
Por isso, “Poznan representa o momento desta agenda (até 2009) em que os ministros dão orientações políticas e mostram que as suas visões sobre como deve ser travada a luta contra as alterações climáticas”, concluiu.
Esta animação encomendada pela CEFIC, Conselho Europeu das Industrias Químicas mostra como se vão demonstrar os impactos das alterações climáticas. O narrador diz que todos, incluindo a industria, partilham impactos na emissão de gases de efeito de estufa, para concluir que a CEFIC não concorda com as medidas da União Europeia de taxar as emissões de CO2.
A CEFIC quer, em vez do comércio de emissões, aplicar o conceito de benchmarking às emissões de CO2.